A vida moderna é um tédio. Por quê? Tudo acontece sempre
no mesmo ritmo, da mesma forma, do mesmo modo. E tudo o que vem depois, a
seguir, é sempre alguma coisa que a gente já estava esperando. E a gente
espera, espera bastante. A gente espera na fila do supermercado, a gente espera
na fila de ir ao banheiro, a gente espera na fila da rua, do cinema, da festa. Por que não ficamos
simplesmente em casa? Nesta fila imensa de casas que estão ao meu lado. Neste
beco reto ou naquela rua curva - é sempre igual.
Se não tivéssemos sido educados, nunca viveríamos assim.
05 de junho de 2012. Uma escola. Prova da OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas). Oitavo ano A. Os alunos reclamam que não foram avisados. Perguntam se valerá nota, o que acontecerá se não fizerem? Informam-se sobre a duração da prova; respondo que serão três aulas. Lamentam. Perguntam o que acontecerá se acabarem antes. Digo que é inútil: melhor fazerem devagar, com calma, pois a folha de respostas só será entregue faltando 30 minutos para o final. Resmungam contrariados. Um terço da sala faltou (é antevéspera de feriado prolongado). Há grupinhos concentrados na sala vazia. Separo alguns; reclamam. Começo a ler as instruções: dizem que não precisa. Sento-me e tento resolver a questão um. Vinte minutos depois uma aluna me pergunta se deve passar a caneta, se pode deixar a lápis. Respondo que pode. Ela acabou: cruza os braços sobre a carteira e, porque desconfortável, ajunta ainda alguns materiais - cadernos e livros -, para ter melhor apoio, e dorme. Antes dela, mais uma aluna, passados dez minutos, já dormia. Com 40 minutos decorridos de prova, dez dormem, três olham fixamente um ponto à frente, um estala os dedos, um outro está inquieto e agora tenta dormir, e agora levanta a cabeça, um atrasado - que chegou às 07h50 - fez a prova em 20 minutos e agora desenha, outro lá ao fundo - dos últimos a acabar - agora rabisca a carteira, e só uma menina faz - não, esperem, ela boceja e bota a prova sob a carteira; acabou, e põe-se a esfregar a borracha na mesa, apagando os cálculos. Seu lápis cai; ela pega. Senta-se meio torta, as pernas ligeiramente voltadas pra direita, mãos lançadas sobre a mesa, cabeça a descansar, cabeços longos estendidos sobre a lateral direita da fila, um braço direito esticado, a mão já tocando a cadeira à frente, braço esquerdo dobrado, mão a apoiar o queixo - agora muda, junta os pés ao centro, endireita-se e cruza os braços na mesa, apoia a testa frontalmente sobre os antebraços - e sossega. Foi a última a acabar. São 08h20; faltam 40min para as 9h. Gabriel e Biatriza começam a conversar baixinho. Advirto-o e ele obedece, até certo ponto, pois já se virou de novo. Só entrego a folha de resposta às 9h, pensei: passo para a questão dois. Por que tenho a sensação de que fiz algo errado? 08h35 - explodem alguns focos de conversa, baixa, quase muda: mando Debbie virar-se (ela conversa com Rafaela Feitosa, que está atrás). Ela atende e vira-se, com uma cara triste e, ao mesmo tempo, engraçada, quase sorridente. Há um grande barulho de crianças pequenas, vindo do pátio. A manhã é escura, o tempo é frio: chove ou garoa agora. 08h43 - chove mais forte. Ouço o som no telhado, gordas gotas. Rafaela Feitosa vira-se outra vez para trás. Não preciso falar, ela mesma se corrige - e a Helena, colega de trás, não tem outro remédio senão dormir. Mateus Mota, à primeira carteira da fila da porta, braço esquerdo parcialmente encostado no joelho esquerdo, braço direito completamente apoiado no joelho direito, mão a segurar o queixo, olha desoladamente para o chão, triste e calado. A chuva sobre o telhado. 08h50 - entrego a folha de respostas. Luna preenche as respostas em tempo recorde: 3 minutos. 09h03 - fim da prova.
Todos entregaram.