
No mês do centenário da morte do "mulato sabido", diria Oswald de Andrade, o Memorial de Aires veio a calhar. Uma obra menor se comparada aos clássicos, vá lá. Mas nela está sempre o Machadão, provocando leitor, pena e papel. E dizendo, assim, despretenciosamente, idéias que, mesmo novas, sua caligrafia faz parecer sempre terem existido. Ainda bem que não terei o trabalho de grifá-las desta vez.
Se na compra de livros usados ganhamos algo, superior à mísera economia do vil metal, a substância desse lucro pertence à esfera dos substantivos incontáveis, tal é a beleza que se nos vende por cinco, dez, quinze reais, não mais. Mas, mesmo incontável, é uma beleza peculiar essa, a das histórias das leituras marcadas nas margens. Sempre tive, tenho, terei preguiça de pensar, embora admire o ato. Então, se encontro anotações marginais, fico duplamente satisfeito, pela leitura feita e a interpretação roubada. Sei que a confissão é íntima, teclado, mas quase ninguém nos lê. Além do que, já sabemos: não se perde nada em parecer mau; ganha-se quase tanto como em sê-lo.