Começou então para Raskólnikov um tempo singular: dir-se-ia que uma densa névoa subitamente tivesse se posto à sua frente, envolvendo-o em uma solidão pesada e inexorável. Ao evocar essa época, muito tempo depois, ele compreendeu que sua consciência estava obscurecida, e que esse estado permaneceu, com breves intervalos, até a catástrofe definitiva. Estava absolutamente convencido de ter se equivocado em muitos pontos, por exemplo, no momento e na duração de certos acontecimentos. Pelo menos, quando mais tarde quis reunir e coordenar as suas reminiscências, foi-lhe necessário recorrer a testemunhos de estranhos, para saber um grande número de particularidades. Confundia os fatos, considerava tal incidente como conseqüência de um outro que não existia senão na sua imaginação.
Crime e castigo. Sexta parte, cap. 1.
Tenho a repentina (e talvez blasfema) impressão de que Dostoiévski andou lendo Gabriel García Márquez. Não me pergunte como nem por quê.
28.1.09
26.1.09
20.1.09
A arte e a literatura dos cadernos de empregos
Eu sinceramente não sei quem é que está mais sem vergonha: esse pessoal do ramo prostitutivo... ou esse pessoal do meio jornalístico, que publica essas coisas (e o Diário, hein?).

Espere, leitor. Talvez v. não tenha penetrado no espírito da coisa. Nós estamos falando especificamente daquele anúncio da Babalú, que, não contente em ser "safada", também é "muito vadia". Este aqui:

Isto é in-crí-vel!!! E depois os professores é que ganham mal...
O mais legal de tudo, neste caderno de "Empregos & oportunidades" do DGABC, é que ele é lido pelos alunos do ensino fundamental da aprazível cidade de São Caetano do Sul! É que, por um convênio entre prefeitura e jornal, todo dia as escolas recebem 20 exemplares, a serem usados pelos professores num projeto denominado "O Jornal na Sala de Aula". Muito bem.
Pergunto eu: o supracitado caderno não é parte integrante do jornal? Creio que sim. Então, que se lasque!, tenho levado pra aula. E, se algum dia, alguma criança de 12 anos perguntar, Professor, o que é um "anal giratório"? Eu, com a cara mais inocente que tiver para o momento, responderei: "Não faço ideia, filho." E mudarei de assunto. Porque toda vez que tento imaginar o que seja essa coisa, sinto, além da vontade de rir, um misto de medo e dor.

Espere, leitor. Talvez v. não tenha penetrado no espírito da coisa. Nós estamos falando especificamente daquele anúncio da Babalú, que, não contente em ser "safada", também é "muito vadia". Este aqui:

Isto é in-crí-vel!!! E depois os professores é que ganham mal...
O mais legal de tudo, neste caderno de "Empregos & oportunidades" do DGABC, é que ele é lido pelos alunos do ensino fundamental da aprazível cidade de São Caetano do Sul! É que, por um convênio entre prefeitura e jornal, todo dia as escolas recebem 20 exemplares, a serem usados pelos professores num projeto denominado "O Jornal na Sala de Aula". Muito bem.
Pergunto eu: o supracitado caderno não é parte integrante do jornal? Creio que sim. Então, que se lasque!, tenho levado pra aula. E, se algum dia, alguma criança de 12 anos perguntar, Professor, o que é um "anal giratório"? Eu, com a cara mais inocente que tiver para o momento, responderei: "Não faço ideia, filho." E mudarei de assunto. Porque toda vez que tento imaginar o que seja essa coisa, sinto, além da vontade de rir, um misto de medo e dor.
17.1.09
14.1.09
Se servistes à pátria, que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis, ela o que costuma. (...) Se vossos feitos foram romanos, consolai-vos com Catão, que não teve estátua no Capitólio. Vinham os estrangeiros a Roma, viam as estátuas daqueles varões famosos, e perguntavam pela de Catão. Esta pergunta era a maior estátua de todas. Aos outros, pôs-lhe estátua o Senado; a Catão, o mundo.
Pe. Vieira. Sermão da Terceira Quarta-Feira da Quaresma (Capela Real, ano de 1669).
Eu adoro este padre.
Pe. Vieira. Sermão da Terceira Quarta-Feira da Quaresma (Capela Real, ano de 1669).
Eu adoro este padre.
13.1.09
Quando em férias, bela noite de céu estrelado, caminhando à beira-mar, alguém muito bacana, louco, bêbado, com uns tantos baseados, farinhas, balinhas, sabe-se lá deus o que esses maconheiros andam tomando, coloca pela segunda vez a mão em v., e agora demoradamente, é hora de dizer uma frase ridícula. Ainda assim, v. tenta ser mais prático: "Ei, companheiro, por favor, tire a mão de minha cintura." Para ouvir que: "É, o mundo ocidental tem um complexo em relação ao tato, não?"
Hahaha. O sujeito tinha senso de humor. O que te carrega para as raias do cinismo: "Não! o mundo ocidental é bastante rico em termos de diferenças, na verdade." O que não convence: a frase é inevitável. Então, a gente tenta fazê-la natural, busca pôr em segundo plano, camufla numa subordinada adverbial causal, mas o resultado é o mesmo. E se a mão, incômoda, continua em sua cintura: "É que, veja bem, temos hoje em dia... bem... por exemplo: como eu sou hétero, vejo que..." "...Hahahahahaha". De fato. Ridículo. O bom de tudo é que ninguém mais me agarrou pela cintura.
Hahaha. O sujeito tinha senso de humor. O que te carrega para as raias do cinismo: "Não! o mundo ocidental é bastante rico em termos de diferenças, na verdade." O que não convence: a frase é inevitável. Então, a gente tenta fazê-la natural, busca pôr em segundo plano, camufla numa subordinada adverbial causal, mas o resultado é o mesmo. E se a mão, incômoda, continua em sua cintura: "É que, veja bem, temos hoje em dia... bem... por exemplo: como eu sou hétero, vejo que..." "...Hahahahahaha". De fato. Ridículo. O bom de tudo é que ninguém mais me agarrou pela cintura.
6.1.09
Meta para 2009
Eu só tenho uma:
- Trabalhar não mais que 4 horas diárias.
Acho difícil alcançar este ano, mas não estou tão longe. Oficialmente trabalho seis. Agora, é arranjar um jeito de cortar as malditas duas horas, a irresponsabilidade financeira, os gastos supérfluos, os charutos cubanos, as prostitutas do interior e as cervejas importadas. É utopia. Mas não é motivo para não querê-la.
- Trabalhar não mais que 4 horas diárias.
Acho difícil alcançar este ano, mas não estou tão longe. Oficialmente trabalho seis. Agora, é arranjar um jeito de cortar as malditas duas horas, a irresponsabilidade financeira, os gastos supérfluos, os charutos cubanos, as prostitutas do interior e as cervejas importadas. É utopia. Mas não é motivo para não querê-la.
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