5.12.10

Todos se guiam por ideias feitas

Todos se guiam por ideias feitas, receitas de julgamentos, e nunca se aventuram a examinar por si qualquer questão, preferindo resolvê-las por generalizações quase sempre recebidas de segunda ou terceira mão”.

Viva Lima Barreto. Não sei bem por que, não vou muito com a cara do Daniel Piza - acho que veste bem demais a camisa do Estadão, ou sei lá. Também, quando critica Brizola parece vestir a da Globo também. De qualquer maneira, hoje fez uma boa ação. A frase é daquelas que a gente vive a querer expressar, sem saber como, com um medo danado de dizer besteira, parecer bobo, pedante. Mas é um traço de comportamento comum, muito comum. Felizmente, não é de todos, como exagera Barreto. Ou será que é?

Aí é onde mora o diabo, e a gente é sempre tentado a seguir estas receitas prontas, mormente se emanam de autoridade literária mais ou menos consagrada, reproduzida por autoridade jornalística competente. Lima Barreto, cá pra nós, não teve este triste fim todo que Piza desenha, muito exageradamente também. Afinal, há pelo menos uma meia dúzia de escritores brasileiros bons, do século XX, que sucumbem no limbo. Sem contar o quanto de escritor bom que existe por aí, agorinha, ou que pelo menos escreveu nos últimos 30 anos e ninguém ouve falar. Quanto tempo demoraremos para conhecer os grandes escritores do nosso tempo? Não me venham com Chico Buarque para cá. Ele já é bem conhecido, e particularmente: não li nem gostei.

Mesmo entre os já falecidos, quem fala de um José J. Veiga? A hora dos ruminantes é obra amplamente desconhecida. Fernando Sabino cometeu a descortesia de falecer no mesmo dia que Christopher Reeve, e pagou caro, tendo sido esquecido pelo noticiário - e faz tempo não vejo falarem em O grande mentecapto. Lima Barreto, apesar de toda a disputa étnica que os movimentos negros animam, não foi maior que Machado de Assis, nem nunca será, se o critério de valor for apenas o literário. Se levarmos em conta posicionamento político, visão de mundo, etc. etc., aí a coisa pode até mudar. Mas, neste caso, não falamos mais (só) de literatura.

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