A leitura de Robert Michels foi sem dúvida uma das coisas mais importantes deste ano que se acaba. Curiosa a atualidade de sua obra. A Sociologia dos partidos políticos, de 1911, parece contar, em grande medida, a história do PT, do ABC e dos últimos 30 anos de Brasil.
MICHELS, Robert. Sociologia dos partidos políticos: ensaio sobre as tendências oligárquicas na democracia. Trad. Arthur Chandon. Brasília: Ed. UnB, 1982, 4ª parte. [1911]
Na 2ª parte ficou dito que: os chefes são estáveis; são remunerados; tem voz (imprensa/parlamento); não caem facilmente; se caem, novos chefes é que o derrubam; tendem a burocracia, a oligopólios.
4ª parte
MICHELS, Robert. Sociologia dos partidos políticos: ensaio sobre as tendências oligárquicas na democracia. Trad. Arthur Chandon. Brasília: Ed. UnB, 1982, 4ª parte. [1911]
Na 2ª parte ficou dito que: os chefes são estáveis; são remunerados; tem voz (imprensa/parlamento); não caem facilmente; se caem, novos chefes é que o derrubam; tendem a burocracia, a oligopólios.
4ª parte
Cap. I – Luta de classes desagrega=> burguesia => gera filhos socialistas, que se voltam contra ela.
Cap. II – Os chefes socialistas de origem burguesa são solitários (entre o ódio da classe de origem e desconfiança da classe operária)
Cap. III – As transformações sociais produzidas pela organização
O aburguesamento dos partidos operários (inclui também sindicatos) – quando novas camadas sociais entram na órbita do Partido – modifica o movimento político. Isto por três razões:
1 – Pequenos burgueses (por razões eleitorais) são atraídos para o Partido. O Partido precisa, para chegar ao Parlamento, falar para o povo, não só para uma classe. Daí atrai indivíduos de vária origem.
Mas, observando os partidos socialistas, tanto o italiano quanto o alemão ou o francês, vê-se que a proporção de burgueses e pequeno-burgueses é pequena. Na realidade, o aburguesamento deve-se muito mais aos chefes socialistas de origem operária. Estes é que se transformam mais; passam por verdadeira metamorfose.
2 – A organização cria novos pequeno-burgueses (uma aristocracia operária). Um partido, como o alemão, necessita, porque imenso, de muitos funcionários. Forma-se assim um grande grupo, que passou da experiência de produzir sua vida fazendo trabalho material para a produção de trabalho intelectual.
A elite operária terá vida dura, mas algumas vantagens: conforto, liberdade, dignidade – É preso? O partido ajuda. É perseguido? Mais ascende no partido. Por mais que deva trabalhar muito no Partido, não é mais o empregado subordinado a capatazes no interior de fábricas.
Uma analogia Partido-Igreja-Exército: este papel do Partido – ser um trampolim social – é semelhante ao papel que já exerceram (e ainda exercem, em dada medida) a Igreja e o Exército. A partir da Contra-Reforma, filhos de camponeses podem se tornar parte do clero – o que antes não acontecia –, garantindo assim outros horizontes de vida. Os filhos da burguesia ascendente prussiana frequentemente entravam para o Exército, para, assim, na qualidade de oficiais, ganhar do imperador títulos de nobreza, posição, respeito – que no XIX só os fidalgos tinham.
No caso do Partido, é difícil que operários que passam por esta transformação social, com grandes implicações no modo como faz sua vida material, é difícil que resistam a mudar suas ideias. Os chefes socialistas de origem burguesa são mais confiáveis neste sentido, e se alteram menos ao entrar no Partido, pois não se deixarão seduzir fáceis por adulações, brindes, armadilhas políticas. Os chefes de origem proletária, porém, mudam. Somente operários “ideólogos” resistem à contaminação do meio. Mas... e a segunda geração: como se comportará?
Ao olhar estas questões parece que são mudanças superficiais (afinal, mesmo um partido grande, atinge uma parcela pequena da população, a seu serviço). De fato, são mudanças superficiais. Mas a superfície aqui tem mais importância que o costume. Estamos falando de self-made leaders. Homens que ocupam posições-chave e aí chegaram após duras lutas. O peso do que são têm reflexos mais profundos.
3 – A defesa patronal cria pequeno-burgueses.
Cap. III – As transformações sociais produzidas pela organização
O aburguesamento dos partidos operários (inclui também sindicatos) – quando novas camadas sociais entram na órbita do Partido – modifica o movimento político. Isto por três razões:
1 – Pequenos burgueses (por razões eleitorais) são atraídos para o Partido. O Partido precisa, para chegar ao Parlamento, falar para o povo, não só para uma classe. Daí atrai indivíduos de vária origem.
Mas, observando os partidos socialistas, tanto o italiano quanto o alemão ou o francês, vê-se que a proporção de burgueses e pequeno-burgueses é pequena. Na realidade, o aburguesamento deve-se muito mais aos chefes socialistas de origem operária. Estes é que se transformam mais; passam por verdadeira metamorfose.
2 – A organização cria novos pequeno-burgueses (uma aristocracia operária). Um partido, como o alemão, necessita, porque imenso, de muitos funcionários. Forma-se assim um grande grupo, que passou da experiência de produzir sua vida fazendo trabalho material para a produção de trabalho intelectual.
A elite operária terá vida dura, mas algumas vantagens: conforto, liberdade, dignidade – É preso? O partido ajuda. É perseguido? Mais ascende no partido. Por mais que deva trabalhar muito no Partido, não é mais o empregado subordinado a capatazes no interior de fábricas.
Uma analogia Partido-Igreja-Exército: este papel do Partido – ser um trampolim social – é semelhante ao papel que já exerceram (e ainda exercem, em dada medida) a Igreja e o Exército. A partir da Contra-Reforma, filhos de camponeses podem se tornar parte do clero – o que antes não acontecia –, garantindo assim outros horizontes de vida. Os filhos da burguesia ascendente prussiana frequentemente entravam para o Exército, para, assim, na qualidade de oficiais, ganhar do imperador títulos de nobreza, posição, respeito – que no XIX só os fidalgos tinham.
No caso do Partido, é difícil que operários que passam por esta transformação social, com grandes implicações no modo como faz sua vida material, é difícil que resistam a mudar suas ideias. Os chefes socialistas de origem burguesa são mais confiáveis neste sentido, e se alteram menos ao entrar no Partido, pois não se deixarão seduzir fáceis por adulações, brindes, armadilhas políticas. Os chefes de origem proletária, porém, mudam. Somente operários “ideólogos” resistem à contaminação do meio. Mas... e a segunda geração: como se comportará?
Ao olhar estas questões parece que são mudanças superficiais (afinal, mesmo um partido grande, atinge uma parcela pequena da população, a seu serviço). De fato, são mudanças superficiais. Mas a superfície aqui tem mais importância que o costume. Estamos falando de self-made leaders. Homens que ocupam posições-chave e aí chegaram após duras lutas. O peso do que são têm reflexos mais profundos.
3 – A defesa patronal cria pequeno-burgueses.
Para se defender, os operários fazem greves, enfrentam os capitalistas. Os capitalistas, para se defender, demitem empregados-chave. Vai-se formando assim um vasto contingente de proletários mutilados pela luta. Estes, por isso mesmo, logo viram pequeno-burgueses.
Tornam-se comerciantes, camelôs, micro-empresários. E, seus antigos camaradas de trabalho, por um dever de solidariedade, acabam comprando seus produtos. E assim os sustentam. Estes comerciantes vão ocupar um papel chave para o partido: é nestes porões insalubres de seus bares, que as direções locais se reúne, lêem jornais, discutem o movimento.
Na Alemanha, formaram-se associações de taberneiros socialistas (um partido dentro do Partido), que se tornou influente em várias questões. A Liga Berlinense dos Hospedeiros e Hoteleiros Socialistas lutou contra as “casas do povo”, projeto de bares populares, mais salubres, para a classe trabalhadora; foi contra a campanha anti-alcoólica que o Partido queria empreender em 1907, tentando educar seus membros.
Cap. IV – A necessidade de diferenciação na classe operária
Todo operário quer uma existência melhor. Isto causa:
-Fracionamento da classe trabalhadora em categorias (funcionários de arsenais lutam por uma coisa, os da indústria têxtil por outra, etc.) e entre países (muitas vezes, um operário em um país central vive tão bem quanto um industrial de um país periférico – e, enquanto a Inglaterra avança seu domínio imperial pelo mundo, causando em dadas partes do globo superexploração da classe trabalhadora, os trabalhadores ingleses melhoravam sua condição muito acima da realidade do restante mundo proletário). Certos setores operários ganham mais poder que outros, como por exemplo, os tipógrafos na Alemanha, os lapidadores de diamante na Bélgica, os operários de arsenais militares na Inglaterra ou Itália.
-Oposição entre categorias da classe trabalhadora: os organizados em Partido (e mais instruídos) exigem dos não-organizados (subempregados, informais etc.) solidadariedade nas greves, nas campanhas por aumento de salário. Mas muitas vezes os não-organizados já estão satisfeitos com as condições, dado terem uma história de sobrevivência em condições sempre piores. Esta solidariedade, exigida pelos organizados, não é, na contrapartida, devolvida aos não-organizados. Assim, os organizados na Alemanha lutam por bolsas de trabalho, seguro-desemprego etc. que beneficiam somente os membros do Partido; na Inglaterra, bloqueiam o ingresso de novos membros com a invenção de pesadas taxas e exigência de certificados de formação profissional; na Itália, formam panelinhas corporativas, como os operários do arsenal de Florença, que passam exigir que somente seus filhos e descendentes possam entrar no ramo.
Tornam-se comerciantes, camelôs, micro-empresários. E, seus antigos camaradas de trabalho, por um dever de solidariedade, acabam comprando seus produtos. E assim os sustentam. Estes comerciantes vão ocupar um papel chave para o partido: é nestes porões insalubres de seus bares, que as direções locais se reúne, lêem jornais, discutem o movimento.
Na Alemanha, formaram-se associações de taberneiros socialistas (um partido dentro do Partido), que se tornou influente em várias questões. A Liga Berlinense dos Hospedeiros e Hoteleiros Socialistas lutou contra as “casas do povo”, projeto de bares populares, mais salubres, para a classe trabalhadora; foi contra a campanha anti-alcoólica que o Partido queria empreender em 1907, tentando educar seus membros.
Cap. IV – A necessidade de diferenciação na classe operária
Todo operário quer uma existência melhor. Isto causa:
-Fracionamento da classe trabalhadora em categorias (funcionários de arsenais lutam por uma coisa, os da indústria têxtil por outra, etc.) e entre países (muitas vezes, um operário em um país central vive tão bem quanto um industrial de um país periférico – e, enquanto a Inglaterra avança seu domínio imperial pelo mundo, causando em dadas partes do globo superexploração da classe trabalhadora, os trabalhadores ingleses melhoravam sua condição muito acima da realidade do restante mundo proletário). Certos setores operários ganham mais poder que outros, como por exemplo, os tipógrafos na Alemanha, os lapidadores de diamante na Bélgica, os operários de arsenais militares na Inglaterra ou Itália.
-Oposição entre categorias da classe trabalhadora: os organizados em Partido (e mais instruídos) exigem dos não-organizados (subempregados, informais etc.) solidadariedade nas greves, nas campanhas por aumento de salário. Mas muitas vezes os não-organizados já estão satisfeitos com as condições, dado terem uma história de sobrevivência em condições sempre piores. Esta solidariedade, exigida pelos organizados, não é, na contrapartida, devolvida aos não-organizados. Assim, os organizados na Alemanha lutam por bolsas de trabalho, seguro-desemprego etc. que beneficiam somente os membros do Partido; na Inglaterra, bloqueiam o ingresso de novos membros com a invenção de pesadas taxas e exigência de certificados de formação profissional; na Itália, formam panelinhas corporativas, como os operários do arsenal de Florença, que passam exigir que somente seus filhos e descendentes possam entrar no ramo.
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