26.10.10

1964

Como vimos, os dogmas do  ideário de 1964 objetivam o resguardo da ordem, no sentido de conservação das estruturas essenciais do capitalismo, de preservação dos valores da ordem, da família, da propriedade e da religião cristã.  Sob este Signo, Vencerás! Assim, o bonapartismo da contra-revolução das classes dominantes uniu-se contra o “perigo vermelho”. Trata-se, em nosso caso, de desorganizar as ações de massas que se enquadravam num programa de reformas democráticas, de talhe nacional e popular, a fim de impulsionar e promover a consolidação do capitalismo subordinado, como a melhor forma de combater o comunismo. A recusa ao comunismo e a adesão ao princípio social da propriedade privada como o vetor básico do convívio social, na visão da autocracia burguesa bonapartista, está pressuposta no caráter utópico de toda negação do capitalismo. Nas concepções de Geisel, o comunismo é irrealizável porque esbarra na própria condição humana:

É uma utopia principalmente porque não considera as peculiaridades da natureza humana, que fazem do homem um eterno insatisfeito, querendo sempre mais e, na generalidade das situações, não levando em conta o bem dos seus semelhantes. Muitos não pensam assim e se deixavam levar pela doutrina comunista, aparentemente igualitária. Outros foram comunistas por recalques, por insucessos da vida, por frustrações. Quando o comunista está convencido do acerto da sua doutrina, não há ninguém que o convença do contrário. É uma doença incurável.
[GEISEL apud D’ARAUJO, M. C.; CASTRO, C. Ernesto Geisel. Rio de Janeiro: FGV, 1997, p. 145-146.]

 
Ora, segundo a posição anticomunista, o perigo de esta “doença incurável” se propagar residia na própria situação miserável vivida pela maioria da população, pois, sendo assim, ela é, ao menos virtualmente/potencialmente, transformada em presa fácil da manipulação dos comunistas. A sua influência deriva, assim, da própria realidade nacional, como produto do seu atraso, das doenças, do analfabetismo, do problema social, do egoísmo das classes dominantes, da má distribuição de renda.

RAGO FILHO, Antônio. "Sob este signo, vencerás! A estrutura ideológica da autocracia burguesa bonapartista." In: Cad. AEL, v.8, n.14/15, 2001, p. 182-3.

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