7.8.07

Suspeitas

“Odeio gente simpática!”. Não sei por que fui me surpreender com a frase dela. Parece absurdo, mas o normal é concordar. E, afinal, os absurdos tornam-se normais com o hábito, mais cedo ou mais tarde.

Será que esse monte de gente que nos aborda à rua oferecendo crédito, deus, bens, produtos e serviços não será parte de uma revolução? Será que ouvindo-os, sempre tão simpáticos, não estaremos subvertendo aquilo que foi uma marca de humanidade, que passará a ser a marca do mercantilismo? Será que isso não causará efeitos desastrosos?

Não é de hoje que, quando alguém chega falando manso, a gente instintivamente protege a carteira ou a bolsa. Vendedor, evangélico ou ladrão, o alvo será o mesmo. Se quiser evitar constrangimentos, não diga “por favor”, nem “com licença”, muito menos “senhor” ou “senhora” com simpatia. Use um tom de voz algo parecido com um PM dizendo “Cidadão!” A rusticidade será nossa lei, daqui pra diante.

5.8.07

Vagabundos!

Fomos, voltamos, iremos, voltaremos, mas vamos e venhamos: a gente nunca mais vai dar certo. Não é questão de ser pessimista, não, a questão é que, na realidade, o nosso ideal de país já acabou há muito tempo. A gente vai-se enganando, claro, fingindo que não é com a gente, porque é melhor não acabar neurótico. Mas, quando nos olhamos no espelho, sabemos, e em silêncio é que admitimos: fracassamos. E essa é a idéia tácita da nação. E essa é a verdade que não queremos ouvir. Nosso povo é analfabeto, nossa mentalidade é provinciana, nossa religião é só fachada, nossos valores são mesquinhos, nossa corrupção é cotidiana, nossa política é politicalha, nossa economia é dependente, nossa riqueza é só de alguns, e o que é nosso, de fato, é muito pouco.

Pra completar, nossas leis são irreais; porque tratam como iguais cidadãos completamente diferentes; porque enquadra nas mesmas regras do jogo participantes com habilidades díspares. Uns roubam carros, são presos, condenados e ficam um bom tempo na cadeia, em companhias piores; outros, queimam pessoas em pontos de ônibus, são presos por pouquíssimo tempo, aos cuidados dos melhores advogados logo são soltos e depois pouco se fala deles. E quando a violência aumenta, e quando aparecem crimes cruéis, vem sempre aquela turma do “agora é a hora!”, o que precisamos é punir com rigor, e vamos começar a pensar em redução da maioridade penal para 14 anos. A certeza da impunidade é o que faz o deliqüente. De outro lado, vem sempre aquela turma do “deixa-disso” dizendo que o que a gente precisa é acabar com as causas, a exclusão, a desigualdade, a falta de perspectiva da nossa pobre juventude. Que o nosso futuro não merece cadeia. E que a nossa cadeia não recupera ninguém.

Sim, o discurso duns e doutros é muito bonito. Mas param por aí. E não fazem mais nada. Fico me perguntando se esses aí acreditam mesmo no discurso que fazem, porque, primeiro, pra agir com rigor e reduzir a maioridade penal, como aqueles dizem, a justiça precisaria ser a mesma para todos e porque, segundo, pra atacar as causas, como estes dizem, só com uma Revolução. E, cá pra nós, nem há vergonha na cara daquelas pessoas para admitir isso, nem vejo estas empunhando armas, nem há nelas a indignação suficiente para a mudança súbita e violenta que o país merece. Então não há condições materiais nem para uma Revolução nem para uma revolução. Pior pra nós.

As medidas paliativas, as políticas assistencialistas, a repressão institucionalizada e, também, um código penal ultrapassado, que condena à mesma pena os mais diversos infratores, não vão mais conter o avanço violento de uma juventude amoral, excluída e marginal. Uma juventude muito pouco inocente: aprenderam que a vida é cruel desde cedo. Sim, eles estão cada vez mais precoces: conhecem o som das balas desde cedo, disparadas por traficantes ou polícias. É, talvez fiquem ainda mais precoces: com a redução da maioridade, talvez meninos de 10 anos passem a ser recrutados para guardar o morro, os pontos de venda de entorpecentes. Há uma guerra civil, neste Brasil. E sabemos que a guerra é entre marginais de diferentes classes sociais. E como no centro estamos nós, os cidadãos comuns, ao fogo cruzado, as nossas baixas são maiores. E nossas dores também. Porque, vez ou outra, quando saímos a manifestar e reclamar, ainda nos chamam “vagabundos”.

1.8.07

Loser

E na ficha de inscrição o país onde nasci ficou assim grafado: “Brazil”.

E o resultado é que não fui aceito em nenhuma disciplina.