30.10.08

Novas pedagogias

E hoje a Folha disse que:

Professora é acusada de incitar agressão a criança de 5 anos

Mãe de garoto diz que docente de escola no Distrito Federal segurou os braços do filho e pediu que colegas dessem tapas em seu rosto

Uma briga entre crianças de uma turma de jardim de infância levou ao afastamento de uma professora de educação infantil, ontem, no Distrito Federal. Segundo alunos, após dois meninos se desentenderem na aula, a professora recorreu à violência para punir um dos garotos: chamou um deles à frente, segurou os braços da criança para trás e pediu que os demais colegas dessem tapas no rosto do menino, de cinco anos.

***

O fato positivo é que, finalmente, o agredido agora não é o docente. E, por isso, atitude correta. Boa professora.

27.10.08

Sobre o acordo ortográfico II

Os únicos pontos que, acho, realmente podem oferecer alguma dúvida são:

1. As seqüências consonânticas, descritas na "Base IV", que ora se conservam, ora se eliminam, ora se facultam, o que pode gerar dúvidas exatamente na facultatividade entre "ato" ou "acto". Afinal, para nós brasileiros não há dúvida que a primeira grafia é correta; a dúvida é se podemos corrigir um cabo-verdiano dizendo que a segunda é errada.

2. O hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares, descrito na "Base XV", mais precisamente no artigo primeiro, onde se diz que "certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, paraquedas, paraquedista, etc." O problema é que neste ou deste "etc." a gente pode enfiar ou excluir o que quiser.

3. O hífen nas formações por prefixação, recomposição e sufixação, da "Base XVI". Esta seção parece bem bonitinha, com exceção de um prefixo: o sub. Antigamente, o uso impunha hífen antes de r ou b. Agora, o acordo elimina totalmente, gerando anomalias fonéticas, como subreptício ou subregião (nada impedirá a leitura deste "bre" como sílaba), ou gráficas, como subbase ou subbosque.

Agora, uma coisa seja dita: o sr. Carlos Alberto Ribeiro de Xavier tinha razão, e muita razão, ao se irritar. Muitas dúvidas vêm de quem não leu bem o texto do Acordo ou, na pior hipótese, não estudou bem gramática. Os capítulos que tratam da acentuação estão perfeitos. Apesar disso, ainda há quem queira ver pêlo em ovo, como a Folha, que hoje disse:

O acordo diz que perdem o acento os ditongos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "idéia" e "jibóia". No entanto, existe hoje uma regra que determina que paroxítonas terminadas com "r" tenham acento. O que fazer com "destróier", que se encaixa nas duas regras?

Se eu fosse o Xavier, diria: "Gente, eu não vejo dificuldade nisso aqui também não... Se antes "destróier" se encaixava em duas regras, agora vai ser regido só por uma, catapimbas!"

20.10.08

Começou hoje uma Semana que celebra os 150 anos de publicação da mais controversa, polêmica e importante teoria científica de nosso tempo, quiçá de todos. E o tempo não poderia ser melhor; 2008 é por demais significativo: há 400 anos nascia Antônio Vieira, há 200 chegava a Corte Portuguesa ao Brasil, há 100 morria Machado de Assis e também há 100 anos nascia Guimarães Rosa... Mas a Teoria da Evolução é o que continua a nos fazer pensar.

Porque ainda em 2008 chegam-nos rastros da apropriação das idéias darwinianas para solidificar preconceitos e rascismos seculares. E justificar a opressão. Nunca é demais lembrar, dizia hoje um meu professor de literatura, que foi graças a um certo valor positivo, maquiavelicamente agregado ao povo europeu pelo viés darwinista, que se construiu o eurocentrismo, conceito eterno que nunca se derruba.

– A Terra é redonda, naturalmente. Apesar disso, nos acostumamos a ver o mapa sempre pela mesma perspectiva, com a Europa ao centro, acima e sobre a África. O que, embora pareça, não é natural. E ensinamos isso nas escolas. Essa mesma semelhança com a naturalidade permitiu que os europeus repartissem a África a golpes de esquadro sobre o mapa, definindo as fronteiras dos atuais países – Egito vai até aqui, Sudão começa ali, Argélia acaba acolá –, em linhas retas, irreais, feridas da régua. O que, sem Darwin, teria sido feito, sim; mas não com tanta naturalidade.

13.10.08

Sabe se ele é casado?

"O importante em relação a um candidato é o caráter das pessoas. Se ele é solteiro, viúvo, divorciado, casado, se tem filhos ou não, é a vida pessoal de cada um. O importante é a sua capacidade, o seu preparo, sua integridade."
Gilberto Kassab

E quem diria que um dia o PFL diria isso ao PT. E com todo o direito.

10.10.08

Um outro cinco de outubro

E eu pensando que era estranho quase ninguém ter falado na elevada quantidade de brancos/nulos cá pelos lados de Mauá: 25.000, ou 10%. Tá certo que muita gente não sabe votar nessas máquina nova. Muito mais por preguiça de aprender que por falta de inteligência, o que afinal resulta sempre em burrice. Sem contar a prática de escolher candidato selecionando-os do chão próximo aos portões da escola; constatei isso in loco na última eleição. Sim, aqui acontecem burrices de vários tipos e formas.

Mas, quando fui ver, em Santo André é pior: 16% de brancos/nulos, ou seja, 74.000 votos jogados fora. Se a gente junta as abstenções, já lá se vão mais de 150.000 pessoas que decidiram não votar: 32% dos eleitores.

Em São Paulo, perto de dois milhões escolheram a mesma coisa. É pra se pensar em nossa tal democracia.

5.10.08

Cinco de outubro

Já uma semana sem te ver, alfabeto amigo, e me impulsiona ao pé do teclado este bom costume: o de escrever tudo para não dizer nada. Bom costume ou vadiação, o bruxo do Cosme Velho, em seu supracitado romance, dizia taxativo: "Vadiação é bom costume". Cem anos passaram voando, e as palavras do Conselheiro Aires soam novas, revolucionárias, absurdas até. E haverão de rejuvenescer ainda mais, porque dia a dia vai nascendo e criando-se gente neurótica, orcarrólique, exigente, reclamona, insensível, pragmática, perfeccionista, preocupada com prazos e acertos, matando o tempo ocioso e, sem ver, a própria vida.

E sem ver a própria vida. Que, apesar de tudo, segue. Segue a vida. Já não tão gostosa e divertida.