9.11.13

Dia a dia



Escola em dia de prova: uma procissão de almas mortas, enterradas nas carteiras, empurrando o passar do tempo, receosos da nota, da cola, do olhar severo do capataz à espreita, à tocaia, à vigília, semblante fechado, cara de mau, irascível, pronto a descarregar todo o ser sobre os seres, do alto da torre da prisão, do presídio, do cemitério da inteligência viva, do túmulo da alegria jovem, sepultando num ritual solene as horas sem fim da manhã chuvosa e fria, em que a piada é ilegal, a conversa é proibida, o olhar é para a nuca do semelhante – controlando o tempo, o espaço, o movimento, o sorriso, aí está a escola, o aluno, o professor. E não reclamem. Vocês vão ver como é o ensino médio. Vocês verão o mercado de trabalho. Que a coisa por aí não tá fácil. É desânimo e mal-estar. Não se trata só de falta de ânimo. É um incômodo, uma dúvida, uma sensação paulohonoriana: estraguei a minha vida, estraguei-a estupidamente. O que há de meu ou de mim nisto tudo? Parece que todos os medíocres seres pelos quais passei, que sobrepus a mim e deixei no passado – qualquer um podia fazer o que faço. É insustentável. É preciso ir embora. Mas há as contas, as mensalidades, os compromissos e os sonhos. Que fazer? Hoje, antes do almoço, tomo um copo mais cheio de pinga. Senão eu congelo por dentro. Em que maldito momento escolhemos a educação? Todos os dias...