26.2.09

Às cinco

Hora malvada,
Hora maldita...
Eu não te vivo.
Eu te vendo.

24.2.09

Adaptações

Eu não entendo essa resistência besta dos escritores em ceder direitos ou aprovar adaptações de suas obras pro cinema. Apesar de não ter gostado de Love in the Time of Cholera, ainda assim quero ver os Cem Anos de Solidão na tela, por que não, Gabriel? Ninguém vai conseguir apagar o brilho de uma obra só porque estragou a versão cinematográfica. É um risco. Mas não mata. Dá vida nova, acende a vontade de reler, de comentar, de comparar. O pior que pode acontecer é alguém ver o filme e ficar com vontade de ler o livro. E quem já leu, tem a chance de ver o que houve de novidade, de inovação, criatividade, que é sempre uma coisa positiva – uma coisa que faltou na versão do livro do Gabriel García Márquez, e sobrou na do Saramago. Mas parece que tudo gira em torno da mesquinharia: não se quer que diretores tenham a chance de fazer um bom trabalho, de criar coisas novas sobre coisas velhas, de receber os louros num universo do qual não são criadores. Talvez por isso apareça toda a confusão antes do lançamento disso:


Ah, dá um tempo, Alan Moore. Do jeito que a coisa vai, essa birra toda fica parecendo ciuminho. Como é que pode afirmar com toda essa certeza que Watchmen não pode ser adaptado pro cinema? Só porque tem coisas que não podem ter vida fora dos quadrinhos? É claro que tem coisas que não saem mesmo dos quadrinhos. Essas ficam de fora, paciência. Em seu lugar, entram coisas que jamais apareceriam no HQ; que só podem existir na tela. Resolvido. Quer dizer, estaria resolvido, se não houvesse esse puritanismo surreal, que quer ver dois Watchmens iguais em suportes diferentes. Sem contar que esse negócio de nem querer assistir o filme mostra uma inflexibilidade típica das ações guiadas pela emoção, o que reforça a tese do ciuminho. A-ham!

Nem viram de verdade, e já foram desancando o filme. Provavelmente os fãs, cegos, indo na onda do criador. Tomara que, quando virem mesmo, todo mundo goste. Pra que a gente não fique dando ouvido a críticas, nem da crítica nem do autor. À primeira vista, pô, parece ser um trabalho legal... e só com isso, eu já ficaria feliz: com um trabalho legal. Imagina agora, sabendo que virá em separado toda aquela parte do universo expandido também?! Yaaaaaaa-hoo-hoo-hoo-hooey!!!

Principalmente pelos Contos do Cargueiro Negro, que, um dia, achei existirem de verdade, fora de Watchmen. Agora, existirão. Navegando noutros mares.

22.2.09

Crime e Castigo

Pode conter spoilers.

Mas, talvez, o melhor de ler os clássicos não seja a novidade. E sim essa sensação de que já os tínhamos lido, de que já estavam dentro de nós, de que era exatamente aquilo diríamos se pudéssemos dizer as palavras certas. Agora, começo a pensar que as aparentes semelhanças de estilo podem ser muito bem diabruras do tradutor – só lendo em russo mesmo pra saber. Mas os links são vários: uma lembrança de García Márquez aqui, uma recordação de Agatha Christie ali (principalmente essa coisa de assassinar a machadadas), um Guy de Maupassant acolá. Sobre este último, um trecho em que personagens discutem a existência de fenômenos sobrenaturais, fantasmas, demônios – poderia muito fazer parte de "O Horla":

– Todos dizem: “o senhor está doente, por consequência o que julga ver é apenas um sonho próprio do delírio”. Isso, porém, não é raciocinar com todo o rigor lógico. Admito que essas visões só aparecem aos doentes, o que prova apenas que é preciso estar doente para observá-las, mas não que elas não existam.

– Com certeza não existem! – replicou vivamente Raskólnikov.

Svidrigáilov fitou-o demoradamente.

– Não existem? É a sua opinião? Mas não se poderá dizer: "As aparições, os espectros, são, por assim dizer, fragmentos, pedaços de outros mundos. Naturalmente, o homem saudável não tem motivo para vê-las, visto que é, sobretudo, um ser terreno, e por consequência deve viver apenas a vida terrestre, em conformidade com a harmonia e a ordem. Mas, desde que adoeça, desde que a ordem normal da terra se altere, ainda que minimamente, em seu organismo, logo se lhe começa a manifestar a possibilidade de um outro mundo; à medida que a doença se agrava, multiplica-se o seu contato com o outro mundo, até que a morte completa lá o faça entrar diretamente”.
(Quarta parte, cap. 1)

Agora, Dostoiévski talvez tenha legado um mau costume irritante, aparentemente copiado por Saramago, que é esse de não nomear os capítulos. E quando a gente quer reler aquela parte, atar as pontas da trama, ressaber de novo quem é aquele personagem, não temos os nomes. E com esse incômodo, que só fui nomear de fato após a metade, resolvi que se coisas anônimas me incomodam o que tenho a fazer é lhes dar nomes, ora. Sendo assim, fica abaixo a minha parte do trabalho. Me mandem o resto, quando possível.

Quarta parte
Cap. 1 - Encontro com Svidrigáilov
Cap. 2 - Adeus casamento
Cap. 3 - Planos de Razumíkhin
Cap. 4 - No quarto de Sônia
Cap. 5 - No comissariado outra vez
Cap. 6 - O surpreendente Nicolai

Quinta parte
Cap. 1 - Lújin encontra Sônia
Cap. 2 - Um banquete fúnebre
Cap. 3 - Crime e castigo
Cap. 4 - A verdade
Cap. 5 - De quanto morre Ekatierina Ivanóvna

Sexta parte
Cap. 1 - Conversa com Razumíkhin
Cap. 2 - Pietrovich e a verdade
Cap. 3 - Encontro com Svidrigáilov
Cap. 4 - O libertino
Cap. 5 - Dúnia, Svidrigáilov e aulas de tiro
Cap. 6 - Svidrigáilov vai à América
Cap. 7 - Raskólnikov se despede outra vez
Cap. 8 - A verdade outra vez


Epílogo
Cap. 1 - Prisão, doença, casamento e morte
Cap. 2 - Mudança

20.2.09

Tableau

Cheguei e abri a porta mecanicamente, como sempre fazia, como toda a família fazia, como toda família faz. E sob a tênue luz que se infiltrava pelas cortinas de um fim de tarde, na penumbra em que jazia a sala, e mesmo com a TV desligada, uma imagem difusa congelou-me os membros e fez caminhar pelas costas um medo cheio de patas nojentas e arrepiantes. Os corpos de mãe e irmão meus achavam-se por sobre o sofá, inertes. Era chocante. Era surreal.

– Por que não estão vendo TV? - gritei, desesperado.
– Porque... uahh... estávamos dormindo... – e bocejou outra vez.
– Ah!

19.2.09

É madrugada...

... e tenho sono, mas não quero dormir. Quero escrever. E talvez escrever não diminua o aperto no peito, nem resolva os problemas do mundo, nem traga alegria, talvez só traga tristeza, certamente só trará isso. Mas sigo ainda escrevendo. Mais uma palavra. Mais uma linha. E fico sofrendo as dores que causo também. Como num grande jogo de espelhos, em que as tintas das minhas ações se refletem no mundo dos meus sentimentos. Não, não era bem isso. Queria dizer que as coisas que eu escrevo podem machucar tanto quanto as coisas que outros me fazem, como faço a outros, com a mesma sensibilidade de rinoceronte. Não, não, não. Em suma, como disse Belchior, sons, palavras são navalhas... Ah! diabo! também não era assim... É melhor ir dormir. Droga.

10.2.09

A câmara em 10 de fevereiro de 2009

O bom e o melhor da política não está mais na arte da organização, direção e administração dos estados e nações, nem tampouco no relacionamento com os outros, a fim de obter os resultados tão melhores quanto possíveis. Já disse uma vez, e digo de novo: política virou circo. Riamos.

E para isso, até que não foi má ideia o povo de Mauá eleger Batoré vereador. Aquele mesmo da praça é nossa. Hoje, declarou em tom solene: 1) que sua cidade teria dado um passo a frente, se tivesse reelegido o prefeito anterior (Leonel Damo - PV) – o que seria muito bom, não fosse estarmos à beira do abismo (veja o inusitado da imagem, leitor); 2) que não aguenta mais a buraqueira das ruas e avenidas: tem buraco tão grande que dá pra cair com as quatro rodas (e de fato não é exagero); 3) que é uma pena não saber onde se está caindo, se é no buraco do Leonel, se é no buraco do Oswaldo [Dias - PT]. Aí já é sacanagem, né, Batoré?

E entre suspeitas de mau uso de recursos do Fundeb, sumiço de livro-caixa, falta de remédios nos hospitais, auditorias nas secretarias por parte da atual gestão, ameaça de abertura de CPI por parte da oposição – neste verdadeiro caos, levanta-se o nobre vereador e ex-prefeito Edgar Grecco para propor lei que multa os donos de animais domésticos que não os vacinarem, encoleirarem, identificarem com placa, recolherem o cocô etc. etc. Nada contra os animais; mas que assunto inoportuno, não? E o discurso foi demorado. Não obstante a longa fala do nobre vereador, o sr. legislador Rogério Santana disse agradecer o colega por seu brilhante discurso. Nosso presidente da câmara é um fanfarrão!