19.12.07

Luiz Biajoni e o Sexo Anal

Se v. ainda não comprou presente de natal, se gosta de ler e de dividir leituras, se está procurando alguma coisa nova, gostosa, genial até... ora, dê um livro, cara pálida. É verdade que o material livro está cada vez mais desmoralizado, mas haverá sempre alguém escrevendo, e escrevendo bem, como Luiz Biajoni.

O site Os Viralata é quem recomenda sair do óbvio e presentear com literatura independente. E lá está à venda o... best-seller não, que o autor não é desses... mas o maldito Sexo Anal, um romance, ops... uma novela que primeiro foi disponibilizada como e-book, e que agora sai empapelada numa edição comemorativa pelos dez mil down-loads e pelas dezesseis rejeições de editoras. E vale a comemoração. Existem livros raros: livros pra se ler gozando. Sexo Anal é assim. Além dele, lá se encontra Virgínia Berlim, o segundo livro do Biajoni, que traz um cd com a trilha da história, além de outras diferenças mais significativas. Não vou fazer crítica, primeiro porque já fizeram muitas, e bem feitas; segundo, porque agora tenho preguiça. Enfim, leia.

15.12.07

Um soneto de Vicente de Carvalho

Velho Tema

Só a leve esperança em toda a vida
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.


Gosto desse tipo de poesia velha. Talvez eu seja burro demais pra entender a arte moderna ou a física quântica, mas não sei de onde veio essa idéia de que os parnasianos sejam menores. Deve ter algo a ver com o stablishment. E com a gente otimista que quer ser feliz. Mas, gostem ou não dos pessimistas, a turminha do Olavo Bilac disse muitas verdades.

Uma coisa, por exemplo, é essa busca infindável pelas coisas inacessíveis. E, pior, por caminhos clandestinos. Não tenho nada contra a clandestinidade, até acho bem poética a atmosfera escura e suja dos porões secretos, mas... a clandestinidade tem de ter um propósito concreto. Não o idealismo cego. No entanto, os riscos a que nos submetemos todo dia tentando conquistar sei-lá-o-quê são tão grandes, que nem os vemos, e mal vemos aonde e onde vamos, inda mais quando o que se põe em jogo é a integridade física ou psíquica. Não vou nem falar em moral.

10.12.07

O Brasil é um país, uma nação e um povo. Um país é um território habitado por um conjunto de pessoas com uma história própria. Durante muito tempo se pensou o contrário, mas hoje sabemos que uma nação é um grupo político independente cujos membros não precisam ter, necessariamente, a mesma origem, língua, religião ou suposta raça. É justamente com suas muitas origens, línguas, costumes e tradições que se pode definir o povo brasileiro e sua história. Assim fica boa e bonita esta definição.

Mas.

O país é sempre um futuro, que não vem. A nação é para sempre o produto do passado colonial, a um tempo vergonhoso e glorioso. E o povo é sempre povo. Sempre povo. Sempre marcado do passado. Sempre esperançoso do futuro. Sempre alheio do presente, da política e da História.

4.12.07

Diálogo entre espírito e matéria

– Pois é o que eu digo. Há luz no fim do túnel. Sim, senhora. Há esperança para o mundo. O que vivemos é o retorno a um ciclo de espiritualismo, que está sempre a se alternar com ciclos materialistas ao longo da História. Cai um tempo de fé, levanta-se um tempo de materialidade; cessa um tempo de ações, acende-se um tempo de orações. Prova-o a numerosa existência de seitas religiosas.

– Pois sigo dizendo que não é assim. Não. Não há esperança. O que vivemos é o início de um ciclo sem precedentes, porque não há, a rigor, alternância de materialismo para espiritualismo: há consubstanciação. O espiritualismo, transformado em produto e, assim, materializado, é mais uma faceta das sociedades de consumo do mundo pós-capitalista. E a luz que o senhor vê, ao fim do túnel, nada mais é que o fogo do inferno! Não lhe faltará combustível. Prova-o a numerosa existência de seitas religiosas.

1.12.07

E os meus avós vieram passar o natal em casa. E vieram da região oeste de um pequeno estado do nordeste brasileiro. E meu avô, que dos seus 77 anos não gastou nenhum na escola, vez por outra solta uns vocábulos desconhecidos:

– Que que é aribé, vô?
– É um tipo de aguidar.
– Mas que que é aguidar, vô?
– Ora-mas-na-verdade, é um tipo de vasilha! E, home, vamo parar com essa conversa que já tá desenxavida demais.
Desenxavida?
– Sem graça. E v. fez faculdade, foi, meu neto?