27.6.08

Manifesto

Um espectro ronda minha cabeça. O espectro da tal nova lei que manda prender motorista bêbado. Não que eu queira ser um desses. Mas o fato é que não precisava criar uma lei tão rígida para reduzir mortes no trânsito; bastava-se cumprir a antiga. Afinal, duas latas de cerveja não matam, nunca mataram nem jamais vão matar ninguém. Causadores de acidentes estão sempre muito além desse limite. E, por eles, o Estado invade os direitos individuais, proibindo as poucas diversões públicas, tolhendo a liberdade e levando-nos a uma sensação de impotência e frustração. Mais uma.

Quando deveria aparecer o maldito lobby dos comerciantes e industriais, não aparece. E fica a questão: deve-se respeitar uma lei com a qual não se concorda. Ou melhor: essa lei será respeitada, ou será apenas mote para atos generalizados de pequenas e cotidianas corrupções. A tradicional prática do suborno talvez ganhe terreno. A extorsão armará campanha nos arredores das casas noturnas. E, outra vez, tudo terá sido mudado para não mudar nada.

De um modo ou de outro, pra mim fica bem claro que aquele que descumpre leis e busca meios de não ser punido, será um corrupto, se sua transgressão comprovadamente causa males. Porém, será íntegro, se descumpre leis consciente de que tal transgressão não infringe a lei maior chamada Ética. Talvez, para se livrarem da culpa e da pecha infamante de corruptos, muitos precisem virar anarquistas. Mas, pelo menos, conscientes da sua integridade, os corruptores poderão finalmente libertar-se dos grilhões que até então os amarravam à vergonha. Ora, uni-vos.

20.6.08

Crítica às críticas à educação brasileira

Atualmente, poucas coisas me emputecem. Antigamente, muitas coisas me emputeciam. E enquanto não chega o amanhã, vejo o jornal fazendo o jogo sujo do governo, juntando greve, professores, má qualidade da educação e trânsito no mesmo balaio, e sinto raiva.

E sinto raiva dos professores. Porque poderiam fazer greve sem levar o injusto rótulo de causadores de trânsito na avenida paulista. Porque poderiam ser mais criativos. Porque poderiam ser mais unidos. Porque poderiam ser todos bons profissionais, e não são. Porque os bons, dadas as condições de trabalho, só conseguem ser medíocres; e os maus, dado o desleixo do poder público, aproveitam-se de todas as brechas possíveis – inclusive faltas abonadas – para serem nada.

O governo erra (ou acerta), quando: 1) centra na figura do professor o problema da educação; 2) pune os maus e os bons indistintamente. Primeiro, muito antes do professor, a má qualidade do ensino é efeito do fracasso da cultura brasileira, da família e da nação. Criança que não vê pais lendo não vai ler nunca. Família que não acompanha rendimento escolar educa o filho a desvalorizar a escola. País cujas escolas não têm porteiro, nem giz, nem livro, nem carteira, nem limite de alunos por sala, nem salário decente nem profissionais satisfeitos não chega nunca a ser nação. Segundo: a existência de maus professores na rede só mostra a incompetência do Estado e de todos. Do Estado, porque a dificuldade em demitir um professor concursado-porém-inepto não faz dele o culpado do fracasso escolar: o real culpado é o criador ou o mantenedor deste sistema enferrujado. De todos, porque se ineptos chegaram a concursados é porque um amplo arranjo social desencorajou os aptos ao magistério. Por fim, o governo erra, se seu objetivo é o bem-comum. Mas acerta, quando seu objetivo é o bem de uma parcela insignificante, mas poderosa, interessada na manutenção de status quo, dominação política, concentração de renda, ignorância do povo e infelicidade geral da nação.

9.6.08

Eu já ouvi falar em bloqueio para escrever. Mas não para ler. E só depois de muito me aporrinhar, numa série de atos enfadonhos e continuados, é que pude perceber que dos últimos quinze livros que comecei, não terminei nenhum. Parece que perdi uma faísca de interesse pela vida que sempre encontrei dentro das páginas.

Vou comprar um Nintendo Wii.