31.3.09

Rachas

Certa vez, ao encontrar um amigo petista com quem há muito não falava, lá pelas tantas perguntei assombrado:
– Mas você ainda está no PT?
Isso foi mais ou menos na época em que o partido expulsou algumas pessoas, e alguns novos partidos foram criados. Ele respondeu que estava. E que não sairia. E não saiu. Sair para quê? Fundar um novo partido?

Pensando bem, hoje eu não faria a mesma pergunta. E tomei convicção disso depois de ver um cartaz de um certo movimento chamado "A plenos pulmões". A primeira vista parecia um movimento político em prol do esporte ou do bem-estar físico, etc. Mas não. É um movimento genuinamente político, ou seja, em prol de causas sociais. Depois descobri o que o originou. O caminho, segundo me disseram, é mais ou menos o seguinte:











Não sei ao certo o que ocasionou todo esse tortuoso caminho. O certo é que: 1) os trotskistas têm acumulado uma vasta experiência em parar e voltar à estaca zero; 2) quem é petista deve estar ainda no PT. Puto da vida, mas ainda lá. Ainda atuando. Ainda a caminho. O que nos faz pensar a quem faz bem aqueles rachas todos.

O que nos leva à pergunta inevitável: havendo um novo racha, conseguirá o organismo sobreviver com apenas um pulmão?

4.3.09

Eaosa

Por causa disto, resolvi contar também algumas histórias que li, vi e ouvi. Não são poucos os causos sobre as empresas de ônibus do ABC. Neste fórum, Rodalvesdepaula conta, por exemplo, que:

"um representante do governo estadual foi notificar uma empresa de ônibus da região por causa dos maus serviços e ameaçou com a cassação da permissão; assim, o dono da empresa pegou um revólver na sua mesa e disse para o fiscal, mostrando a arma: Quero ver quem vai tirar as minhas linhas!"

Para ouvir, de um outro usuário, a pertinente indagação:

"Não foi por uma destas que o Celso Daniel saiu da prefeitura para virar nome de estação de trem?"

O fato é que não só as lendas tem muito de base real, como também a morte de Celso Daniel ficou envolta em mistérios demais. E não é mistério o coronelismo na região do ABC. Mal de origem, na região que até meados do século XX abrigava vastas fazendas, não se pode estranhar que atualmente haja ainda tantos coronéis.

Eles modernizaram-se, instruíram-se, enveredaram por outros ramos, outros empreendimentos, outros negócios, que seguem administrando à moda de fazendas. O serviço de ônibus é um destes latifúndios modernos. Ontem, terça, aqui, Adamo Bazani publicou esta foto:

E apresentou a ficha do primeiro homem, o de gravata, que para estar completa deveria vir assim: dono de 3 mil ônibus, participação em 20 viações, já investigado pela PF por evasão de divisas e sonegação fiscal, presidente da AETC/ABC (Associação das Empresas de Transporte Coletivo do Grande ABC) – Baltazar José de Souza tem 62 anos. Aqui no ABC, é proprietário das viações Eaosa, São Camilo, Ribeirão Pires, Barão de Mauá, Januária e mais o que não se sabe. Segundo reportagem da Folha (só achei aqui), em 2005 a Viação São Camilo acumulava R$ 52 milhões em dívidas no INSS, enquanto suas irmãs, Ribeirão Pires e Barão de Mauá, R$ 17 e R$ 11 milhões respectivamente. De origem humilde, o ex-cobrador possui hoje um império que se espraia por vários estados, incluindo o longínquo Amazonas.


A foto acima é mais recente, e nela Baltazar está ao meio, entre os dois homens, segundo este lugar aqui. Nela não se vê mais a origem humilde nem a pobreza. Mas nos ônibus de suas empresas a história é outra. De uma forma geral, os ônibus do ABC são um lixo.

Um entrevistado de Adamo Bazani, aqui, afirma que contribuiu muito para a decadência dos serviços de transporte duas coisas: os frustrados planos econômicos da era Sarney-Collor e a guerra fiscal dos anos 90. A inflação, a fuga das grandes fábricas para outros estados e o consequente desemprego atingiram em cheio as empresas. Os galpões abandonados da região afetaram duramente as linhas de ônibus que transportavam seus empregados. A consequência disso é que:

"começou a se fabricar ônibus no Brasil, pensando em manutenção mais barata e muitas vezes o conforto era minimizado. Os bancos estofados davam lugar aos duros de fibra. Os motores traseiros, mais silenciosos, voltavam a dar a vez para os dianteiros, mais baratos. A manutenção era reduzida. Tinha empresário que esperava o ônibus quebrar, pois valia mais a pena."

A correção é que tem empresário que continuou fazendo isso até hoje. Em 2008, uma reportagem do Diário do Grande ABC acompanhou um usuário em seu trajeto trabalho-casa e:

"Constatou atrasos, superlotação, falta de conforto, carona para passageiros de outros ônibus da empresa que quebraram no caminho e muitas goteiras no veículo."

A EMTU avaliou 51 empresas da região e criou um ranking, baseado em quatro aspectos: qualidade, frota, situação econômica e opinião dos usuários. O resultado é que em 2004 a Eaosa foi considerada a pior viação de transporte intermunicipal. Como manda o manual, o repórter Gabriel Batista foi ouvir o outro lado. E ouviu que: " 'Uma empresa tem de ser a última do ranking. Dessa vez foi a Eaosa', justifica Baltazar Souza. Ele também é proprietário da viação Imigrantes, a penúltima colocada." É o fim da picada.

Ainda neste mesmo fórum (parece coisa de busólogo), lipe andreense diz que, aqui no ABC, a qualidade dos ônibus é tão ruim que poucas são as empresas com ônibus realmente novos:

"A Viação São Camilo também tem alguns poucos ônibus "novos" (que vieram usados de Manaus, mas são mais novos que as carroças que estavam antes)."

Estes ônibus mudaram de lugar, mas não de dono. Baltazar era dono das extintas empresas Cidade Manaus, Soltur, Viman e Urbana, que operavam no norte do Brasil, segundo informa Jerry Araújo.

O homem que tem tantas empresas tem uma história no mínimo curiosa. Conforme as lendas, era cobrador, passou a motorista e, assim que pôde, adquiriu o primeiro ônibus, a primeira empresa e, daí, forjou um império, sabe-se lá deus como. Em seus ônibus, não é raro ver funcionários portadores de deficiência, mormente cobradores. É que, explicam, ele tem um filho deficiente. Em volta dos ônibus, das catracas, das garagens, também não é raro ver indivíduos mal-encarados, exibindo revólveres na cintura, tatuagens de cadeia e participação no PCC. Isso pouca gente explica. Mas não precisa pensar muito pra concluir que se trata dos novos jagunços, que fazem a guarda do sinhô.