4.8.11

Eu vou

Eu vou vestir a camisa dos pelados:
Sairei nu pelas ruas a afrontar velhinhas mulheres grávidas crianças e bebês de poucos dias
Desacatarei a ordem pública
Cuspirei nas leis vigentes
E desarmarei os preconceitos vulgares com jatos quentes da porra
do amor

E comerei a carne dos cadáveres cujas ideias me alimentam:
Destruirei monumentos, falsos templos, velhas máquinas
Ordens desordenadas da desordem da ordem
Comungarei deste cálice, deste pão
Até limpar os pés no manto sagrado que cobria meus olhos
Ou os queria em horizontes invisíveis

Um dia, eu vou fazer tudo que eu quiser.
Eu vou beber com demônios:
Cairão vertiginosos e inclementes temporais de suplícios agudos e cortantes de solidão desnecessária e vergonha diante do espelho blindado
Eu vou fazer o diabo.
Eu
vou fazer poesia.