27.8.08

Conclusões

Temos duas. A primeira é que essa coisa de ler a trabalho, em busca do erro perdido, acaba causando uma espécie de repulsa por ler. Parece castigo, restando saber onde aconteceu a afronta aos deuses. Pra completar, circulando pela Bienal do Livro, o assédio pelos vendedores de revista era tão grande (graças ao crachazinho de prof.) que, em tempos de telemarketing ativo, a aporrinhação acabou me fazendo perguntar à mocinha insistente se a bienal era de livros ou revistas. E o único balanço sério do evento é que pelo menos a cerveja não estava tão absurdamente cara.

A segunda é que, também lá, assistindo a uma palestra sobre a questão indígena (e, afinal, como ficou o caso da raposa-serra-do-sol?) com Daniel Munduruku e Mércio Gomes, esqueci de pegar o certificado e olharam desconfiado pra mim na escola. Essa coisa de hoje darem diploma até pra curso de noivos, aliada à necessidade de fazer curriculum, acabou gerando um complexo de Rabugento em todo o professorado. Agora, ao se saber de uma palestra, não se pergunta mais qual o tema. A curiosidade sobre a medalha, medalha, medalha vem primeiro.

25.8.08

E eu juro que, nunca mais, enquanto eu viver, haverei de me apaixonar outra vez. Não importa quão belas as linhas dos olhos, da face, das mãos, dos beijos, dos orgasmos, dos cigarros, dos raios primeiros do sol que levemente colore o olhar na estrada que traz dos motéis.

20.8.08

Diálogos psicodélicos reais do ensino fundamental I

(Intervalo, corredor, fila de aluninhos da segunda série)

Professora – Vamos ficar na fila para receber o lanche!
Aluninhos – Blá-blá-blá, blá-blá-blá, blá-blá-blá.
Professora (em tom mais alto) – Olha a fila para receber o lanche! Não cutuca a coleguinha!
Aluninhos – Blá-blá-blá, blá-blá-blá, blá-blá-blá.
Professora (brava, em tom mais alto) – Espeeeraí, não é pra andar ainda, mocinha!
Aluninhos – Blá-blá-blá, blá-blá-blá, blá-blá-blá.
Professora (irritada) – Paciência, nós já vamos!
Aluninha (desatenta) Prô, nós vamos pra onde?
Professora (suspirando e falando bem devagar) – Olha, nós vamos pra Lua.
Aluninha (maravilhada) – Uuuuuaaauu! (vira pra coleguinha de trás, risonha e saltitante) – Você viu? nós vamos pra Lua!!! Vamos entrar no foguete!!! Êeeebaaa!!!
Coleguinha (desapontada) – Aaahhh, mas eu queria mesmo era ir pra praia...

11.8.08

Educação, comunicação e democracia brasileiras

Está em curso no Brasil, ainda em estágio primitivo, um movimento denominado educomunicação, que aproxima a prática educativa dos meios de comunicação social de massas. Em 1992, na cidade de Nova Olinda, interior do Ceará, surgiu a Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri, uma referência aos primeiros habitantes índios. A região é internacionalmente conhecida pela Chapada do Araripe, campo de pesquisas paleontológicas com fósseis de mais de 100 milhões de anos. O objetivo da organização seria promover cursos de formação em programas como Memória, Comunicação, Artes e Turismo.

Aos poucos, crianças e adolescentes tomaram a casa. Na prática, a administração é hoje protagonizada por mais de 70 jovens. A cidade passou a sofrer o impacto das ações. Criou-se uma cooperativa mista dos pais e amigos da casa, a fim de explorar o potencial turístico em pousadas, cantinas, serviços de transportes etc.

A tecnologia de comunicação ali criada resultou em criação de jornal, editora, museu, grupos de teatro, música e uma rádio comunitária FM. De meia em meia hora, o noticiário da cidade é produzido e apresentado pelas crianças. Criou-se também uma TV. Cinco cidades da região passaram a sintonizar o canal local, até que... três semanas depois, a polícia federal bate à porta e indaga quem seria o responsável por "aquilo". Francisco Alemberg de Souza, idealizador da fundação, foi processado pela justiça federal. E, desde 2000, quando a Anatel lacrou o transmissor, tenta conseguir dos órgãos governamentais autorização para pôr no ar a TV comunitária.