28.1.09

Começou então para Raskólnikov um tempo singular: dir-se-ia que uma densa névoa subitamente tivesse se posto à sua frente, envolvendo-o em uma solidão pesada e inexorável. Ao evocar essa época, muito tempo depois, ele compreendeu que sua consciência estava obscurecida, e que esse estado permaneceu, com breves intervalos, até a catástrofe definitiva. Estava absolutamente convencido de ter se equivocado em muitos pontos, por exemplo, no momento e na duração de certos acontecimentos. Pelo menos, quando mais tarde quis reunir e coordenar as suas reminiscências, foi-lhe necessário recorrer a testemunhos de estranhos, para saber um grande número de particularidades. Confundia os fatos, considerava tal incidente como conseqüência de um outro que não existia senão na sua imaginação.

Crime e castigo. Sexta parte, cap. 1.

Tenho a repentina (e talvez blasfema) impressão de que Dostoiévski andou lendo Gabriel García Márquez. Não me pergunte como nem por quê.

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