2.9.07

Pessimismo

Eu não sei se as pessoas que têm esperança nas coisas grandes e boas colecionam mais alegrias ou frustrações ao longo da vida; o fato é que eu não tenho. E acho que sou infeliz. Todavia, me considerar feliz seria otimismo, e ser otimista é um erro. De todo modo, não mudo, já estou velho demais pra mudar. Paradoxalmente, posso até dizer que sou feliz sendo infeliz.

Schopenhauer esteve certo o tempo todo. As coisas negativas da vida serão sempre maiores que os aspectos positivos que possam existir, se é que existem. E pode até ser que eu seja meio insensível pra isso, mas perceber o ódio que sentem por mim vem sempre primeiro que o prazer de me descobrir amado. O que não deve ser exclusividade minha: os atos de agressão são sempre mais visíveis; os atos de carinho é que são muito mais raros, porque nós, terráqueos, desenvolvemos mecanismos de defesa que nos fazem esconder aquilo que achamos ser pontos fracos em nós. Se a experiência de ser magoado é horrível, o melhor é não dar margem a surpresas ruins e, assim, as surpresas boas, apesar de poucas, serão suficientes para regar o fio da vida com alguns racionados goles de alegria.

O fato é que, talvez, a receita da felicidade seja esta. Não esperar coisas boas. Descobri que, antes de tomar o sorvete, ter a certeza de que ele vai cair no meu pé, logo nas primeiras lambidas, resulta quase sempre no inusitado de chegar ao fim sem vexames. Acreditar antes que o professor vai dar um nota ruim e ainda me esculachar publicamente me faz avaliar depois que tudo foi muito melhor do que pensei que seria. Acreditar que a infelicidade é inexpugnável é uma dádiva que me mantém resignadamente satisfeito. E sem me importar muito com o fim de tudo, que será definitivamente final, vou andando muito tranqüilamente, sem pressa nenhuma de chegar ao final da estrada. Não deve haver nada de bom no fim dela.

No comments: