José Geraldo Couto mandou bem. Não é todo dia que caderno de esportes faz a gente pensar. Sobre o Adriano, imperador e tudo, ter decidido parar de jogar futebol e ganhar milhões de euros, chocando-nos a todos com tão grande e dupla perda (se bem que, pra mim, a perda maior é dos milhões mesmo; o Adriano é que nem aquele Luizão que vestiu a camisa dos quatro grandes de Sampa: faz gol, e ponto.), ele escreveu hoje na Fôia que:
Pululam as explicações fáceis, as respostas automáticas: é dor de corno, depressão, muita droga, birita, falta de estrutura, burrice pura e simples. Seja qual for a explicação mais convincente, Adriano criou um fato.
Tomou uma atitude inesperada num mundo de reações tão programadas e previsíveis. Foi na contramão da corrente hegemônica, desafinou o coro dos contentes. Seu gesto inquieta e perturba porque, na sua aparente irracionalidade, nos faz questionar a lógica absurda que comanda nossas vidas.
O leitor que acompanha ou suporta esta coluna sabe o quanto valorizo o lance que destoa: a furada, o frango, o erro. Deslizes que iluminam, que sobressaltam, que acordam. João Cabral de Melo Neto dizia que, em sua poesia, evitava "embalar" o leitor numa música que o fizesse deslizar como quem roda por uma estrada bem asfaltada. Preferia construir um caminho de pedras que, com seus solavancos, levasse o leitor a despertar.
Mal comparando, uma atitude como a de Adriano equivale a uma canelada, um tropeção, uma pedra com que se topa no meio do caminho. Quem quiser que se defenda do susto respondendo com as frases feitas citadas lá em cima. E quem tiver coragem que encare o Adriano que traz dentro de si.
2 comments:
de fato destoua da coluna de esportes usual.
Torcedores de futebol conhecem João Cabral?
Eu não entendi o incômodo com essa história. O boy quer ficar perto dos truta, e foi pro Flamengo, qual é o problema? O Ronaldo tá no corinthians...
Eu só sei que ele é tudo. Eu ia.
Post a Comment