14.2.10

Miséria

Semana passada, aniversário de um amigo em São Paulo, saio para a rua Augusta e lá está numa esquina Alan, cerca de 35 anos, alagoano, natural de Arapiraca, buscando latinhas. Conversamos. É pra uma quentinha, preciso almoçar amanhã. Mas, rapaz... às vez eu penso, sou mermo um lixo, nunca imaginei chegar nessa situação... catar latinha.

Ontem, tomo minha cerveja ao fim da tarde em Santo André, quando aparece uma dona de 55 anos, sobrancelhas sofridas, pede alguma coisa, um mínimo que seja. É pra comprar feijão, meu filho. Horas depois, semáforos à frente, umas nove da noite, lá está no meio da rua uma mulher de 30 anos, pouco mais ou menos, e me pede qualquer coisa, 10 centavos que seja. Procuro, ela espera, mas não encontro nada, não tinha moeda alguma mesmo. Olho com pena, ela responde, tudo bem, o que vale é você ter falado comigo, me dado atenção, boa noite, e vendo-me acompanhado diz, vocês são um casal bonito. Antes não dissesse nada, porque o pior é que disse isso com amor!

Isto tem sido assim, bem sei, nenhuma explosão súbita de miserabilidade, mas o fato é que cada vez mais isso aqui começa a ficar, realmente, totalmente sem graça. Não é que venha sendo. Vai ficando mais...

Viver, trabalhar, chorar, comer, beber, andar, ver o sinal, parar, ver, conversar, continuar, dar a moeda, não dar a moeda, dar, não dar...

Por que não me alieno?

1 comment:

Leco Vilela said...

eu me pergunto isso todos os dias...

ps: viver de verbos é um saco!