9.6.07

Orgulho e Preconceito

Da leitura de Orgulho e Preconceito (1813), de Jane Austen (1775-1817), ficou-me: afinal, o preconceito é de Elisabeth e o orgulho é de Darcy, ou vice-versa. Orgulhosos os dois são. Fiquei apenas tentando encontrar o preconceito em Darcy, sem chegar a resultados. Aí, outro dia, esbarrei com o filme nas estantes. Fui ver.

Um bom filme, sim senhor, ambientado no XVIII, figurino muito bem feito (e apesar da bela atuação da bela Keira Knightley, talvez o figurino merecesse mais o Oscar 2006 do que a atriz), perfeita reconstrução de cenários, luxo, pompa, circunstâncias e todas as frescuras mais a que tinham direito. As imagens são bem fiéis ao livro, sobretudo as externas, recriando toda a riqueza em jogo, castelos, mansões, laguinhos cristalinos, extensos campos verdes etc. Os diálogos, ácidos, também lá estão, em sintaxe rebuscada, associação veloz de idéias, lambuzados em ironia o tempo todo.

É claro que a história toda tem um ponto fraco: é romântica. O enredo é irreal. É inverossímel alguém como a personagem principal contrapor-se à sociedade de seu tempo, enfrentá-la, desafiá-la e, ainda assim, casar-se, como se nada fosse, ou como se não fosse aquilo que ela, Elisabeth, mais critica. É claro que ela se casa em condições especiais; casa-se por amor. E, só pra mostrar que o amor vence tudo, exatamente por não buscar isso, casa-se com um homem muito rico. Mas, ora, isso não tem consistência racional alguma. Mas, enfim, é a tal "estética romântica", cuja parte pior é não deixar rolar, nem no filme, muito menos no livro, ato algum de lascívia ou libidinosidade. Nenhum beijinho, nada. Chega a dar raiva.

Em todo caso, se o enredo parece fraco, as personagens não o são. Por isso, vale a pena ver no filme personalidades tão consistentes, como o Sr. Bennet, cuja maior diversão é provocar a mulher; a mulher, Sra. Bennet, cujo ridículo instinto de casar as filhas torna-se irritante: oferece-as aos pretendentes como se fossem putas; a filha, Elisabeth, de personalidade difícil, debochada, subversiva; as outras filhas, que são, de fato, um bando de putas; Sr. Collins, o primo, que é um chato de galochas: vive elogiando todo mundo por onde quer que passe.

Não tem como não dar razão a Elisabeth: "Minha família está claramente competindo para ver quem é mais ridículo." Nem como não dar razão a Jane Austen: era uma mulher à frente do seu tempo. E à frente de muitas pessoas do nosso tempo.

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