21.11.07

Dúvidas e certezas

Não, dessa vez emaluqueci. Tô aqui, bem, tudo bem, com quase tudo, oxigênio, calor, algum espaço com alguma lama para chafurdar, mas... é estranho. Parece tudo bem, mas tô com aquela tal comichão no cérebro aliada a um apertãozão no peito, fundo, melancólico, de nostalgia, sei lá do quê, de alguma coisa que eu ainda não conheço.

Não é pela morte de ninguém: nunca levei ao cemitério nenhum ente querido. Talvez por isso até acho romântico andar em câmera lenta, por entre catatumbas, em silêncio, ouvindo Atmosphere. Também não é por desilusões amorosas: já estou velho e maduro, e isso é coisa pra adolescente emo. Não é pela solidão nem pela tristeza: conheci que ser feliz é aprender a ouvir a beleza que existe no silêncio. Trauma de infância não pode ser: pobre não tem infância. Não, definitivamente, não é isso. Parece ser alguma coisa que eu ainda não vi.

Talvez seja liberdade.

Estremeço ao pensar nisso. Porque, realmente, é isso. Estou preso. A pensamento e lógica que me faz soar irracional se os contradigo. E, ironicamente, quando digo o que penso a seriedade me abandona, e fico a sós com um cinismo que me marca como louco. Como um louco que diz o contrário do que pensa. E já nem posso acreditar em minhas crenças. Que meu fascínio não é pela vida, é pela morte. Que meu encanto é pelo choro, não pelo riso. Que não vejo nos casamentos a beleza que aspiro nos divórcios. Que meu conceito de amor é uma piada. (Muitas vezes, quando a tarde começa a cair, e sombras de árvores se espalham no chão, e olhos brilham, e suspiros balançam no ar – ama-se tanto, que se vêem coisas visíveis e invisíveis, muito mais no amanhã que no hoje, muito mais no céu que na terra, muito mais cupidos vendando que cupidos vendados, e quando se dá conta se está com febre. Ou ensolação. E a única saída, ou cura, é passar a odiar o objeto do amor. Ser amado então é um perigo no escuro. É por isso que eu amo muito mais as pessoas que me odeiam – porque conheço-as.) Mas estou indo longe demais. Volto.

Volto à razão. Já agora nego a negação que professava.

E sigo acreditando que só há uma crença a seguir, só um norte a buscar: felicidade. É, sim senhor, felicidade. Honestamente, felicidade é a melhor e mais simples coisa do mundo – felicidade é ter um bom espaço de lama para comer, defecar ou chafurdar nas horas quentes do dia. Porque fora do chiqueiro é perigoso, prende-nos a seu interior a corrente da razão. Mas com espaço suficiente para caminharmos em círculos, desenhando à vontade pensamentos altos, livres, no piso enlamaçado da prisão.

1 comment:

Endora said...

Ah o divórcio... se um dia eu me casar, o farei já pensando no tal do divórcio... tem uma tirinha da Maitena que é incrível e na qual ela fala justamente disso. São duas mulheres conversando:

- Digam o que quiserem, mas tem mais gente que se casa do que gente que se separa.

- Sim, porque é muito mais fácil casar do que se separar.

=D