27.9.08

A arte e a literatura dos livros ensebados


No mês do centenário da morte do "mulato sabido", diria Oswald de Andrade, o Memorial de Aires veio a calhar. Uma obra menor se comparada aos clássicos, vá lá. Mas nela está sempre o Machadão, provocando leitor, pena e papel. E dizendo, assim, despretenciosamente, idéias que, mesmo novas, sua caligrafia faz parecer sempre terem existido. Ainda bem que não terei o trabalho de grifá-las desta vez.

Se na compra de livros usados ganhamos algo, superior à mísera economia do vil metal, a substância desse lucro pertence à esfera dos substantivos incontáveis, tal é a beleza que se nos vende por cinco, dez, quinze reais, não mais. Mas, mesmo incontável, é uma beleza peculiar essa, a das histórias das leituras marcadas nas margens. Sempre tive, tenho, terei preguiça de pensar, embora admire o ato. Então, se encontro anotações marginais, fico duplamente satisfeito, pela leitura feita e a interpretação roubada. Sei que a confissão é íntima, teclado, mas quase ninguém nos lê. Além do que, já sabemos: não se perde nada em parecer mau; ganha-se quase tanto como em sê-lo.

3 comments:

Amanda Lacerda said...

Nada mais inspirador do que um livro comprado em sebo. Aquele cheirinho ensebado e a caneta do(s) primeiro(s) leitor(es) tão inscrita na capa e etc. que já faz até parte do livro. Fantástica a conversa com o teclado "(...) já sabemos: não se perde nada em parecer mau; ganha-se quase tanto como em sê-lo."

Bjos
Amanda

Leco Vilela said...

Uma forma bem poética de dizer isso...tambem sou fã da arte rupestre em páginas de livros usados... é um registro de algo que não é sagrado, maldita mania que o sr humano tem de exaltar algo, ainda mais quando esse algo é e deve ser popular é e deve ser discutido nenhuma veradde é absoluta, então por que a verdade impressas nas páginas seriam?

Leco Vilela said...

Acho que sem dúvida nenhuma esse é o maior mistério da literatura portuguesa...Será que Sherlock resolveria esse mistério?