15.8.09

Fora, Sarney!

Taí uma coisa que eu não faço mais. As pessoas que vão pra Paulista, talvez pensem que fazendo isso estão consolidando os valores democráticos e dando um basta à corrupção, como se a corrupção estivesse encarnada em Sarney, como se não fosse estrutural. Por que será que a Folha, o Estadão, a Globo – tudo que é jornaleco não param de falar na corrupção no Senado? Não há corrupção na Câmara? Dizer que a mídia é golpista é demais, mas não dá pra negar que é poderosa e tendenciosa. Mesmo assim, a sociedade pauta suas lutas a partir daquilo que é notícia, sem ponderar que a imprensa recorta um fragmento do mundo, apenas um fragmento. Mas... e o que não é notícia? A concentração de renda, a exclusão e o engodo chamado democracia – baseado em voto, passeatas na Paulista e abaixo-assinados, que nunca resolvem nada – são problemas muito mais graves, mas como não são notícia (nem podem ser, porque fragmentadamente isso não é visível, e mesmo quando noticiada a coisa é vista pela conservadoríssima concepção epistemológica de que o mundo é estático e, além do mais, o modo mais apropriado de ver o movimento é a dialética, e quase ninguém mais lê Heráclito) ... mas como não são notícia, ninguém reclama mais disso. Virou a coisa mais normal do mundo.

Outro dia apareceu uma cidade do Sul aí que, por causa da gripe suína, mandou fechar tudo que era restaurante e boteco, só alguns casos especias puderam abrir. Mesmo os que abriram, reclamavam do fraco movimento: "As pessoas estão com medo de sair de casa, esse mês fecharemos no vermelho, prejuízo, prejuízo." Em nenhum momento alguém lamentou o desperdício de comida que isso representou (e que ocorre em todo restaurante até em situações normais), porque, quando a visão do tema é fragmentada, isso não tem muita importância, nem relação com a fome de outros lugares. Vou assistindo sempre que posso a tevê Senado, agora fazer alguma coisa, tô fora. Fazer o quê, se estamos todos cegos, sem saber o que fazer. E agora a culpa toda é do Sarney, ele é a maior afronta à democracia e à sociedade?

Engraçado ninguém ter dado bola pro caso da PROIBIÇÃO da "marcha da maconha", quer atentado maior à democracia? Proibiram uma marcha! Os maconheiros também são bem burros: é claro que o Estado não vai permitir tão fácil a legalização desse tipo de drogas. Cada lei que for extinta, é a negação de Foucault, uma razão a menos pra existir polícia e outras tantas mais pra não necessitarmos de OAB, Porto Seguro, Cadeados Papaiz e deus sabe que mais ramos industriais. De qualquer maneira, essa é a democracia. Ah, me poupe dessa farsa.

2 comments:

Leco Vilela said...

demogracia = poder do povo, segundo os gregos, mas fica a pergunta que muita gnete esquece, quem era o povo grego? quem podia votar? quem fazia parte do DEMO?... e esse sistema gira até hoje. ¬¬

Lucas said...

Pior que isso é, talvez, uma palestra na Fundação Santo André sobre a "Filosofia de Che", introduzida por um cara ao violão cantando "caminhando e cantando e seguindo a canção"...

E essa palavra, a tal da "democracia", anda desgastada. Não significa mais nada, tamanha a banalidade com que foi usada.