7.10.09

Fichamento

Cansei de perder minhas fichas. Isto aqui começa a virar espaço realmente útil.

[...] há no romance dois ângulos principais que definem a visão do autor e condicionam sua “arte de escrever”: a investigação da realidade como algo subordinado à consciência (esta alçada ao primeiro plano) ou a consciência sendo posta a serviço de uma realidade existente fora dela. Levando em conta tais ângulos de subjetivismo e objetividade, combinados nas mais variadas formas, [Antonio] Candido considera que “as obras mais completas são em geral as que manifestam simultaneamente os dois aspectos da realidade – o interior e o exterior – tratados, porém, como se o romancista houvesse estabelecido com o seu material uma relação de sujeito e objeto”. [...] os escritores em geral alcançam a plenitude quando conseguem passar do subjetivismo adolescente (“que faz da realidade um conjunto de impressões e emoções”) para a análise objetiva (que “reconhece a existência própria do mundo onde o sujeito se insere”), como seria o caso de José Lins do Rego.

[...]

Escreve Suassuna: “[...] eu tenho uma visão particular sobre História. Veja bem, não sou historiador, sou fundamentalmente escritor. Fui muito marcado por Leonardo Mota e por um outro escritor, tido como um autor menor, mas do qual gosto muito, Alexandre Dumas. O Conde de Monte Cristo, que muita gente vê como uma obra de diversão, para mim tem um grande sentido mítico, algo que me toca muito. Vejo o personagem do Abade Faria como Mefistóteles de Fausto, pois ele transforma um jovem e inocente marinheiro no sombrio Conde. Mas o caso aqui é outro livro, Os Três Mosqueteiros. Acontece que os historiadores modernos começaram a fazer uma História baseada em documentos. Tudo bem, eles são importantíssimos, sim. Mas, com essa ênfase nos registros, os historiadores deixam de lado algo muito importante que é o personagem. Só que para isso tem que ser escritor. O grande historiador tem que ter a precisão, a documentação, o estudo, o esforço do cientista, e também a chama do escritor. Sem isso, ele não coloca a pessoa diante do personagem. Por conta de Dumas, eu nunca vi o Cardeal Richelieu como um homem cinzento e abstrato igual aos outros personagens nos livros de História. O escritor tornara o personagem vivo para mim. Estudar História foi fascinante porque eu não a via friamente” (2004; grifo nosso [vermelho meu]).

(Ortega et al. A Literatura no caminho da História e da Geografia. Cortez, 23-25)

3 comments:

Thiago said...

"os escritores em geral alcançam a plenitude quando conseguem passar do subjetivismo adolescente [...] para a análise objetiva."

Os escritores Simbolistas e os Românticos, incluindo aí os modernos Proust, Joyce, Rilke, ficariam muito ofendidos ao ler esse trecho, assim como eu próprio o fiquei (não por ter me atingido, mas por qualificar por "adolescente" o que é oposto ao Naturalismo).

"Um pouco mais de virgindidade", como diria Paulo Francis.

Eduardo Araújo said...

Eu amo o Cândido, mas é preciso e possível uma abordagem que exclua o cartesiano olhar viciado do ocidente. E dar valor só pelo que revela na perspecitva sociológica e história é bem limitadora. Nesse sentido eu fico com Guimaraes Rosa, Garcia Marquez, Cortázar e Jorge Luís Borges.

Anonymous said...

Passei pra agradecer a visita.No meu cantinho...lasecihi@gmail.com
me manda um Oi tb.Pra trocarmos mais idéias.Eu tenho uma gaveta bagunçada cheia delas...