"Acho as ciências humanas incertas e inúteis."
Luiz Felipe Pondé*
Faz algum tempo, nasceu um discurso. Deve ter sido chocado no XIX, quebrou a casca dos ovos no começo do XX e veio serpenteando até nossos dias. Esgueirou-se sinuosamente por entre duas guerras mundiais, a grande crise de 29, nazismo, fascismo, stalinismo, bombas atômicas, guerra fria, homem na lua, ditaduras militares, crise, queda e construção de muros, neoliberalismo, crise. Avançando sub-repticiamente, em ziguezagues, alcançou o status de verdade e alojou-se nas mentes, mesmo as mais inteligentes. Aí foi onde, ironicamente, criou as raízes mais profundas. Arrastando-se pelo chão, andando, movendo-se tortuosamente, elevou-se a uma categoria pura e plena: a das ideias ornadas de lama, limbo, musgos e superstições.
Há um bom tempo ouvimos que "a ciência falhou em promover bem-estar à humanidade"; que "a fé nesta ciência revelou-se um erro".
Pondé parafraseia Pascal, que, referindo-se a Descartes, provavelmente louvava a matemática, sempre exata na quantificação do vasto e grande mundo, em contraposição à filosofia, sempre incerta, apesar da simples tarefa de desvendar como funcionam as pequenas relações humanas. Há nisso mais ideologia política e religião do que, propriamente, ciência. Afinal, falhou a ciência ou falharam os homens de ciência? É importante revelar o tempo todo o que somos: agentes. Se o resultado de nossa atuação acarreta prejuízos, deve-se apontar quais sejam. Principalmente quando se sente um rebaixamento aviltante da espiritualidade – de dimensões humanas que se perdem. O funcionamento de um mundo humano depende de descobrirmos a causa magna de seu movimento, para adequá-lo a nossos desejos.
Ao longo do século XX o grosso da produção científica teve em vista este objetivo? Que significam os bilhões das naves espaciais de ontem e de hoje?
*Folha, ilustrada, 31/05
3 comments:
Viajando.
Não sei muito mais que a maioria da população sobre ciência, mas tenho um pensamento.
Sabe-se que tudo já feito até hoje, saiu do plano das idéias para o concreto. Lembro-me dos filmes de ficção cientifica, Startrek por exemplo, sei que não é exatamente da minha época, mas lembro. A maioria das invenções pensadas pelo programa, hoje existem. A cultura impulsiona a ciência e para mim isso é tão visivel que não consigo conceber que os outros não vejam isso e que maldosamente façam poucos de profissionais da área de cultura.
'O funcionamento de um mundo humano depende de descobrirmos a causa magna de seu movimento, para adequá-lo a nossos desejos.'
você quer MESMO descobrir essa causa?!
(Respondo aqui, Renan; não achei link para endereços seus) Se quero mesmo? Não é assim tão simples. Estudo a sociedade humana: são ossos do ofício. É menos um desejo que uma necessidade. Na verdade, ainda há muito a se descobrir nesse terreno, mas o essencial já foi posto: a causa do movimento da humanidade é um misto de "necessidades" mais "atividade consciente" que as satisfaçam.
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