5.10.10

Conversas inocentes

Engraçado. De repente, a lama escura da política ficou mais clara.

1 - Primeiro, Joaquim Roriz é barrado pelo Ficha Limpa, e tenta recurso no TRE. Perde, e o caso vai ao Supremo Tribunal Federal. Preocupado com o resultado, procura tirar do caso o juiz Carlos Ayres Brito, cujo genro é Adriano Borges. Roriz procura este último e, numa inocente conversa, pede que o defenda. Isto faria com que, no momento do julgamento, Brito fosse obrigado a declarar-se impedido de votar. Ao negociar as cláusulas do contrato de defesa, situação que vaza em vídeo na imprensa (Folha, 01/10), Roriz comenta que com a saída de Brito o caso está ganho, sugerindo que já sabia de antemão que teria favoráveis a si os votos de Gilmar Mendes, José Antonio Dias Toffoli, Marco Aurélio, Celso de Mello e Cesar Peluso. O genro (em quem Brito não mais confia, segundo confidências que fez a amigos) não vê problema algum na negociação, e quer ganhar 1 milhão. Roriz acha caro. O contrato acabou não se firmando, Adriano Borges não entrou na jogada e Brito desimpedido teve atuação destacada no julgamento, empatando a votação em 5 a 5, com seu voto pró-ficha limpa. E, assim, impediu que se derrubasse de vez o cadáver semivivo do projeto de lei popular. Que ficou pra ser enterrado ou ressuscitado só Deus sabe quando - tendo nisso destino muito pior que o de Lázaro, que não consta nas escrituras ter passado por esta desgraçada condição de alma não nascida, à espera do Salvador.

2- Joaquim Roriz, preocupado com eventual desfecho ruim, troca de lugar com a mulher, Weslian Roriz. A candidata, nos debates, não apresenta proposta alguma, responde para tudo que montará "uma assessoria técnica", chama o oponente Agnelo de Agnaldo, diz que vai "defender a corrupção" e, uma vez eleita, quem mandará será ela, embora possa ser "orientada" pelo marido. Em suma, é uma pobre pessoa que mal sabe o que faz, e o que fazem dela. Demonstrou ser incompetente na arte, hoje disseminada, de se deixar manipular por marqueteiros – mas tal ato nobre foi involuntário.


3 - Enquanto isso, na Sala de Justiça, o PT percebe que deu um tiro no pé: ano passado ajudou a aprovar uma lei que prejudica a votação em Dilma. A lei exige inocentemente, na hora de votar, dois documentos a brasileiros, incluindo nordestinos que mal têm o que comer. Então, o partido entrou com recurso contra si próprio no STF. A Suprema Corte faz o que dela se espera, a votação avança e vai derrubando o obstáculo injustificável ao voto do subproletariado. Então, Serra liga para Gilmar Mendes e os dois conversam inocentemente, como informou a Folha em 30/09. Mendes, imediatamente, embora já estivesse numericamente derrotado, pede vistas do processo, adiando a decisão por tempo indeterminado e deixando muita gente de cabelo em pé. No dia seguinte, finalmente, Mendes vota, e a novela acaba.

Conclusão: 1 - Ricardo Lewandovski, Carlos Ayres Brito, Carmén Lúcia, Ellen Gracie e Joaquim Barbosa não são comprados de Roriz. 2 - Tirica está longe de ser o pior da eleição em 2010 – talvez seja um dos melhores, tendo por único defeito não saber ler. 3 - Gilmar Mendes parece ter um círculo de amizades bastante amplo, de José Serra a Joaquim Roriz, e a amplitude de seu círculo social parece proporcional à do seu cinismo.

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