11.5.07

Das castas

Em tempos de expansão marítima, jesuítas, viajantes e colonos portugueses indistintamente nomeavam “negro” aos índios brasileiros e escravos vindos da África. A denominação, que hoje nos parece esdrúxula, servia para assinalar a diferença branca do conquistador. Naqueles tempos não convinha aceitar pluralidades, e entender diferenças nunca esteve na ordem do dia, em lugar nenhum. Assim era o século XVI.

Em Goa, outra possessão lusa, a heterogeneidade do indiano ofereceu dificuldades ainda maiores ao entendimento ocidental, que, se não se atreveu a uma classificação racial, resolveu o conflito reduzindo ao conceito de “castas” uma realidade cultural muito mais complexa, ignorando aspectos como ascendência, profissão, diversidade religiosa e origem geográfica. Ao europeu, porém, o que se tinha ali era tão-somente uma rígida e imutável divisão social. Assim eram as castas. E, deste modo, o XVI legou aos atuais países emergentes um misto de memória colonial, atraso e incompreensão.

Até hoje o indiano, pelas suas diversidades, causa problemas. Kanavilil Rajagopalan, lingüísta, professor da Unicamp, de origem hindu, conta que, ao fazer nossa carteira nacional de habilitação, apareceu a temida pergunta, “Qual é sua cor?”, ao que ele respondeu, “É marrom”, o que levantou problema para a classificação tradicional. É claro que a atendente não resolveria uma questão secular em tão poucos segundos, mas fez o que era possível: “Qual sua profissão?”, “Sou professor universitário”, “Ah, então o senhor é branco”. E assim é o século XXI. E assim são as castas.

No comments: