27.5.07

Que o autor de Dom Casmurro fosse um chato como pessoa, vá lá. E pouco importa. Escrevendo ele era bem divertido, e ainda conseguiria irritar e agradar, a um tempo, e com uma só anedota, a Proudhon e a Nietzsche, respectivamente.

****

Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona, – um triste molambo de mulher, – chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no chão. Senão quando, indo a passar um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era dela.

– É minha, sim, meu senhor; é tudo o que eu possuía neste mundo.

– Dá-me então licença que acenda ali o meu charuto?

O padre que me contou isto certamente emendou o texto original, não é preciso estar embriagado para acender um charuto nas misérias alheias. Bom Padre Chagas! – Chamava-se Chagas. – Padre mais que bom, que assim me incutisse por muitos anos essa idéia consoladora, de que ninguém, em seu juízo, faz render o mal dos outros; não contando o respeito que aquele bêbado tinha ao princípio da propriedade, – a ponto de não acender o charuto sem pedir licença à dona das ruínas. Tudo idéias consoladoras. Bom Padre Chagas!

Quincas Borba, cap. CXVII

No comments: