23.1.07

a vida... a vida anda em transportes coletivos

A minha vida é bem normalzinha, um porre. Mas de vez em quando acontecem umas coisas bizarras, que até vale a pena vivê-la.

Dias atrás estava num assento de corredor, pouco depois da metade, já próximo à porta traseira. E entrou uma família, mãe, duas filhas, o pai vinha atrás. Sentaram-se num dos primeiros bancos a mãe e uma das meninas: a outra olhava-me insistentemente. Quatro anos? olhos negros, pequenos dentes, branquinhos, cabelo ao ombro. E, do nada, começou a chorar e, chorando, caminhou pelo corredor e, caminhando, falava comigo. Trazia aquele brilho nos olhos que não é feito apenas de lágrimas. Era um sofrimento, uma dor, uma saudade, sei lá, eu senti, e senti aquela mão que me tocou o braço e aquele rosto triste e aquela voz clara e infantil, pai, pai, pai. A mãe ficou envergonhada. Eu fiquei paralisado (nem quis ver a cara da mãe!). O pai ficou sem graça. Éramos parecidos. A cor morena. O cabelo curto. A mesma camisa vermelha. Pegou a criança e sentaram-se a minha frente. Ela, chorava. Percurso infeliz. Durante toda a viagem, a curtos intervalos, a pequena voltava-se, confusa, mostrando-me o rosto ainda molhado, ainda soluços, um olhar tão triste, era como se dissesse, porque não me abraça, não fala comigo, não diz, filha, minha filha. O pai estava tão incomodado, que, lá pelas tantas, inda teve a indelicadeza de perguntar à mãe: “Você teve algum caso?” Desci aterrado.

E ainda me pergunto: será?

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